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A poesia fez colméia em mim desde que eu era garotinha e através de pequenas “operárias”, reproduziu-se em minha anatomia emocional um enxame de regalias para a abelha rainha dos versos. Menina ainda, já brincava de versejar, rimar e fazer jogos emotivos com palavras. Era assim que tomava conta da rainha solitária e silenciosa que habitava dentro de mim: Poesia.
A “eu menininha”, então, foi crescendo e escrevendo. Escrevia para mim e pela soberana, que reinava absoluta em meu castelo inabalável.
Até que outra nobre aristocrata das artes, começou a cercar sutilmente meu castelo, com suas tropas sedutoras de melodia e ritmos, flertando com a solitária poesia de mim, tentando sorver seus versos... Música...
Eu gostei dela, assim logo de cara. Minha poesia também se encantou. Mas a música, sempre foi cheia de inesperadas exigências e disciplina. Necessitava sempre de intensa e quase exclusiva dedicação e nunca fui de me dedicar muito. Nunca fui bom súdito. Apenas apaixonei-me por seus acordes e por um tempo permiti que ela namorasse seriamente com a poesia habitante de mim.
Compus canções, cantei, ganhei festivais, gravei algumas crias desse caso de amor, ensaiei pequenos sucessos.
Confesso que a música conseguiu espaço em mim sem grandes combates, utilizando-se do encanto das melodias, da harmonia, do ritmo e mais, valendo-se da minha vaidade, que não me orgulho.
A poesia é um evento solitário sem grande estardalhaço. É um exercício pessoal e sagrado. Quase sem aplausos.
Já a música, alicia e atrai não só por si, mas também pelo glamour que carrega consigo, pois que vem sempre acompanhada de celebração. Foi talvez por isso que comecei a cantar canções de outros e joguei na gaveta meus versos que amarelaram.
A abelha rainha extinguiu-se e não se encontrou na colméia, outra larva forte o bastante para substituí-la. As operárias desertaram de mim e eu, enfeitiçada pela música, me deixei sair pelo mundo, cantando versos que não eram meus.
De qualquer forma, não me devotei como devia à música, nem corri atrás do sucesso. Foi um namoro sem casamento, sem compromisso, que terminou sem mágoas.
Já não sinto falta de cantar ininterruptamente, como sentia antes. Versos e canções de outros, já não me basta. Já não sinto precisão da música namorando a poesia.
Além do que, a linguagem da música é universal. A melodia que comove aqui, comove em qualquer lugar do mundo, sem precisar de traduções.
Compreendi que poesia e música existem independentemente uma da outra.
Podem ser felizes, uma sem a outra, e até se encontrarem de vez em quando.
Podem ser amigas.
Voltei então, atrás de mim mesma, tentando desengavetar minhas palavras. Busquei os escritos antigos, que apesar de magoados, foram delicadamente permitindo-me ensaiar versos novamente.
As dificuldades de voltar para casa, me ensinaram que rainhas perecem, mas a essência da nobreza permanece assim como o cheiro e o sabor do mel.
Não haverá rei posto por aqui. Resistirá a dinastia dos versos.