imagem do google - Thoth
Cheguei a conclusão (ainda que irrelevante) que escrever é um ato repetitivo. Até mesmo o “ato-de-pensar”sobre isso” já foi arrazoado e esmiuçado.
Originalidade é quimera, miragem. É pura ilusão.
Por vezes, muitas e muitas vezes, abandonei poemas, textos, crônicas, entre outros palavrórios, ao perceber que estou repisando em pegadas já carimbadas. “Metaforizo” que viver, é caminhar por uma praia, deixando rastros na areia que já foi pisada e repisada. Então vem a onda e apaga...
Concebo sentimentos que não tem nome em nenhum idioma, careço de um dicionário para tradução de emoções e sensações, antes que insanamente eu comece a inventar palavras que não existem...
É totalmente desimportante quem sou eu, mas preciso reinar soberana, ao menos dentro de mim mesma para encontrar algum alento, e a única forma que conheço de fazer isso, é escrevendo. Nenhuma outra forma de expressão me satisfaz. Não que não as esquadrinhe e tente. Eu canto, pinto telas, desenho, por vezes componho uma ou outra canção. Cortejo enfim, as mais diversas manifestações da arte, mas, careço de luz. O alimento da minha alma é a palavra escrita.
E falando em ‘expressão’, é a nossa única redenção. Expressar-se é a única forma de viabilizar a vida, o existir aparentemente sem sentido. O que nos difere de todos os outros seres vivos.
Queria que um deus, um anjo inspirador de versos, prosas e poemas se anunciasse através de mim, para que eu conseguisse conceber o que nunca foi criado, falar o que nunca foi dito, escrever o que nunca foi escrito. Utopia...
Queria que Thoth revelasse em mim uma epifania articulada da intuição, iluminando o caminho além das limitações do pensamento, através do ofício abençoado de escrever.
Sou humana no sentido mais humilde da palavra. Sou um cérebro e um corpo, permeado de emoções, sensações, paixões, expectativas, medo, pudores, desencantos e suposições. Sou uma mulher ,que sequer precisa de ajuda. Não preciso de nada, só escrever. A mim nada me falta, a não ser tudo.
Fico encantada nas viagens pela literatura de todos os tipos e gêneros. Como é bom esse elo simbólico e tão poderoso que me funde com gente que nem conheço, escritores e personagens de todos os tempos e lugares. Me enleva e comove.
Eu amo as pessoas que escrevem. Algumas mais, por afinidade talvez. Gosto quando a gramática é impecável, mas isso não me impede de admirar a essência, mesmo quando a língua pátria é maculada por pequenos deslizes. Importa as formas inusitadas de dizer coisas prosaicas. Importa os pontos de vista diversificados, a criatividade, a beleza.
Gosto dos textos coloquiais, dos rebuscados, das prosas poéticas, dos versos com métrica, dos versos livres, versinhos miúdos, frases bem-humoradas, crônicas, contos, romances, ficção, documentários, biografias, desabafos, etc. Gosto de ler e de mergulhar em universos diversos. Plural.
Existem ‘coisas’ fantásticas escritas por aí e que certa forma são minhas ou deveriam ser, pois foram coisas que o meu coração sentiu, traduziu, identificou, mas outro expressou.
Parece-me injusto que não tenha sido eu a escrever, mas a indignação pela “pseudo-apropriação” da minha alma transforma-se em alumbramento pela “sincronicidade” do universo. Conivência. Cumplicidade.
Ainda acredito que escrever é um ato repetitivo, mas viver é uma experiência única e intransferível e vou seguir tentando descrever e escrever a minha. Com Thoth ou sem ele.
Sem escrever, não me redimo de viver.
36 comentários:
Gosto desse teu jeito de escrever... Coisa que parecem ser repetitivas, que alguém possa já ter dito, nunca é a mesma coisa, pois cada pessoa coloca a sua emoção naquilo que escreve e, por isso é que tão diferente, apesar de parecer igual.
Bjs.
Ross querida!
Adoro seu modo de escrever, porque vejo sua alma. Muitos pensam como você. Inclusive eu. Lendo muito, acabamos repetindo sem querer metáforas ou "rastros" de outrem.
Mas você é única! E amo te ler.
Beijos
Mirse
Também adoro todas as formas de escrita, assim, esse seu desabafo é uma forma que me identifico muito.
Sua transparência me reanima nesta nossa sina de escrever versos repetidos. Como me reanimei ao ler há vários anos o escrito "todos os poetas já nascem velhos", de Rubem Braga. Talvez ele tenha escrito isso para mim, ou tenha roubado dos pensamentos de minha alma que ainda vagava idosa a procurar os óculos, papel e caneta enquanto tentava lembrar das palavras que sonhara.
Identificar-se com o que os outros escrevem é essencial para continuar...
Beijos!
Rossana
Escrever é repetitivo mesmo, tudo isso que tão bem relatas aqui já foi pensado por mim e ,certamente, por tantos outros antes, agora e muitos ainda pensarão depois!
O que importa se as nossas pegadas forem apagadas pelas ondas tão rapidamente que uns poucos nos possam ler se o que é mais importante, penso eu, e a própria necessidade de marcar a areia da nossa caminhada com as impressões do nosso sentir, do nosso viver atráves da palavra escrita. Precisamos deste "passar à limpo" para, realmente, nos sentir vivos e não somente respirando. E esta é a forma que escolhemos e que melhor consegue nos traduzir!
Toda arte e a escrita não seria diferente, mesmo sendo um forma de expressão, é muito egoísta quando nasce e sabemos e concordamos com isso...
Amiga, continue escrevendo, mesmo se repetindo, eu gosto de dividir as minhas pegadas com as tuas!
Linda reflexão...
Bjsssss
Quem escreve se sente assim mesmo.
Bom texto!
Oi Estela...
É verdade, querida.
Estava com uma saudade de você por aqui...
bjs
Mirse, Larinha e Wania,
A gente frequenta a mesma praia.
Eu amo vocês de verdade.
beijos
Tá vendo? Até isso é igual...
Grata por vir, Prof.
bjs
Rossana, querida, as palavras são as mesmas. A semântica, os signos e talvez, desde Homero, todo o mais, seja desdobramento serial e rearranjos geniais. O fato é que há algo singular na arquitetura das palavras (vou viajar...novidade!)Uma espécie de ânima as anima e elas ganham vida e vida única em sinestesia e sincronia. Sons, tons, texturas, cheiros, gostos - sabores das línguas, amiga. Escrever é isto é solidão e auto exigência - crítica e auto crítica. Inquietudes, Rossana. Também como tu, eu elaboro muito do meu viver, quando escrevo. O original é isto - um texto que fala de teus sentires.
Muito bom!
Abraços e um sorriso
Ah, Rossana, assim não vale.
Querer que um anjo venha soprar em seu ouvido? E você nem precisa disso :)
Beijo pra você.
Amei tua resposta ao texto da xeroxina lá no Arguta !
E também a foto nova do avatar ...
Bjs
Mai,
Você é única!
Eu te amo.
bjs
Ai Dade... Um soprinho vez em quando ajudaria tanto...
Grata por vir querida.
bjs
Flavito,
Você é lindo e espirituoso.
Combinação irresistível.
bjs
Os grandes feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança. Só precisamos de ter força para começar as nossas tarefas, perseverança para não parar no meio, inteligência para terminar e humildade para ver que ficou muito bom e não nos gabarmos.
Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. Acredita em ti própria, pois é só tu que te podes alto julgar. Ousa, arrisca e nunca te arrependas. Não desistas jamais e aprende a valorizar quem te ama, esses sim merecem o teu respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém nunca precisou de restos para ser feliz. As flores mais bonitas não são aquelas que estão no teu caminho, mas sim aquelas que nasceram depois da tua passagem.
Desejo-te um fim-de-semana repleto de alegrias.
JC
Sandokan
Tenho certeza que já li algo parecido..rss
Mas é sempre bom uma boa dose de otimismo.
Grata por vir.
bjs
olha isso:
"... já me fez apagar minhas próprias pegadas muito antes das ondas."
bjs
E é a mais pura verdade, Miriam.
Que bom que apareceu.
bjcas
Rossana,
a literatura alimenta a alma.
Num mundo entediante e repetitivo, sim, pq o mundo é entediante e repetitivo, assim como a escrita, se repete. Tudo se repete.
Porém, a literatura nos salva da mesmice. É verdade que, tudo já foi dito na literatura, todos os assuntos abordados. Porém, o que fascina é a maneira como cada escritor ou poeta trata do assunto.
Veja Camões falando de amor. Depois dele, quantas poesias já tivemos falando sobre o mesmo tema e de forma diferente ?
Embora a escrita muitas vezes seja catarse, o antropólogo Claude Lévi-Strauss disse que "Escrever é um sofrimento".
Concordo com ele. Escrever é tirar do interior, de maneira muito pessoal, algo que incomoda. É criar e viver personagens. É sair de si para viver a poesia. A prosa. Sim, pq saímos de nós, muitas vezes, e nos tornamos outra pessoa.
Escrever é como disse Mia Couto, um ato de humildade, é se encontrar. Sair das entranhas. Autoconhecimento. Reconhecimento do outro.
Parabéns pelo texto lúcido. Inteligente. Que nos chega fundo a alma.
Obrigada pelas suas palavras.
Boa semana !
Cel
Eu que agradeço essa sua análise séria e dedicada.
Você colocou de forma muito lucida e delicada esse assunto, e pode ter certeza que ajuda muito saber que esse prazer "sofrido" não é prerrogativa minha.
bj♥
Pronto... aceito correr o risco... e comentar.
Não posso evitar o óbvio, que tão bem descreveste. Mas agrada-me pensar que cada olhar sobre o mesmo objecto me traz algo de novo.
Agrada-me pensar que todos os sorrisos são diferentes, agrada-me pensar que todas as manhãs, verei sempre céus diferentes, em cores e formas.
Posso ser repetitivo... mas dá-me um prazer imenso saber que de cada vez que abro os olhos, vejo algo de diferente, unico e irrepetível à minha volta...
Com Thoth ou sem ele, se mo emprestares...
Tudo de bom para ti,
Rolando
Rolando
Agrada-me saber que deixou por aqui rastros profundos, que me comove.
Que bom que correu o risco.
Grata.
bjs
...por vezes tbm penso assim...e tudo que brota parece ja ter sito escrito...
as vezes lemos algo e pensamos, putz! queria dizer isso...
beijos de Luz!
É verdade Layara, mas alguns comentários por aqui me fez compreender que cada um sente e se expressa do seu jeitinho...
Grata por vir.
bjs
Poeta
escrever 'e o maior verbo de qualquer língua. Não tenha medo de repetir, copiar, citar, dialogar com vc, com os leitores, escreva!!
Adorei seu texto reflexão!!
bjs e uma ótima semana
Olá Rossana
Acredito que a pessoa que busca originalidade, caso não consiga criar o novo, fermenta/ recicla o velho... Brainstorming... Insight...
A única coisa em que se pode pecar é alienar-se nas mesmas referencias... O rico é ser universal! Infinitas fontes para oxigenar idéias!
Bjuxxx e xerooo
Huummm....péra; escrever não é um ato repetitivo: escrever é dizer-se para o outro. E o que li, eu li aqui, no seu lugar. Não em noutro. Gostei muito. Bjs,Neusa
Oi José
Gostei que tenha gostado.
Escreverei, mas volte sempre.
bjs
Juliana,
Você é mesmo um sopro de inspiração, querida.
Alienar, jamais.
bjca
Momentos de crise, Neusa, quando a folha branca nos desafia...
Mas com tanto estímulo de amorosida e generosidade de quem tem me lido, vou seguir, escrevendo.
Mesmo correndo o risco de repetição.
Grata por vir, querida.
bjs
Se a metáfora da escrita é andar deixando marcas na praia, cujos registros as ondas apagam, viver é nadar, pegar jacaré, atravessar o canal da mancha a nado.
Me sinto pequeno ante as pegadas profundas e também me sinto pequeno ante grandes nadadores.
Mas nado e escrevo muito!
Que bom Rafael!
Quem não desite é grande.
Adorei seu comentário.
bjs
Esse jeito é um só. A falta de originilidade é muito minha. Aí, não é mais. Gosto do raro que vejo e leio aqui. Isso sim, afaga a alma, dá carinho pra areia antes de chegar no mar. Amo tua cumplicidade entre as linhas. As palavras simplesmente são. Tua simplicidade encanta. Não se repete igual. é diferente nadar assim. A gente combina sim. Vou adorar nadar com vc. Sem pontuação. Nova linha de água. Beijão!
Márcia, você é pura poesia.
Grata por deixar-se encantar pela simplicida, grata por achar raro e mais ainda, grata por nadar comigo...
bjs
...arte
é um monte
de mesma coisa
dita e feita
de forma diferente
pegadas repisadas
com a força da obseção
e desespero
ante a fuga dos segundos...
a essência da vida
é o tempo
a essência do tempo
é o fluxo
a alma do concreto
o cimento
o artista é um pirracento
que calcina a pisada
sapateando a pegada
na areia movediça
com raiva da injustiça da onda
na transitoriedade no mar da vida
compartilha seu varejo
no atacado da humanidade
e da um salto pra eternidade
amenizando o desassossego
ante a maior das maldades...
bj
Maravilhoso, guru!
Somos mesmo pirracentos.
Grata por tão lindo poema.
bjs
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