quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

___por__um___fio___


Só queria a ínfima
possibilidade de alegria
um vislumbre ainda que tênue
de esperança
um fino fio a suspender
minha alma esmigalhada e frágil
desesperadamente carente
de surpresas.
             

            

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

de n0v0


Esse ano eu desejo ter esperança
E com a esperança eu espero ter sonhos
E que com sonhos eu sonhe desejos
E com os desejos eu tenha motivos
E dos motivos me venha a coragem
E com a coragem eu seja ação.



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Navegando

imagem do google


Meus portos
são sítios do mundo
onde naufrago meu coração
sem sutilezas ou finuras
De tantas naus que já sou
em infindáveis expedições
transporto heróis e piratas
tesouros e misérias
moléstias e quimeras
em análoga proporção
Embarcações de mim
estão em guerra
muito além da terra
Peleja deflagrada
por bocas-de-fogo
Outras de mim
em plena calmaria
navegam ditosas sem nação
Contudo
minha maior caravela
carrega espectros
de meus mortos saudosos
levitando entre velas
e mastros tortos
ausentes de matéria
Etéreos
confusos e profanos
Transpõe a nau
ventanias e marolas
Singrando e a esmo
desertada em pleno oceano
sem ancoras...


A originalidade e  generosidade criativa do artista TonhO me rendeu esse lindo poema e imagem que partilho com meus amigos. Sou grata amigo! Papai Noel existe!





domingo, 19 de dezembro de 2010

3 X 4

Quando não restar mais nada
Em insones e ermas madrugadas
visite-me enfim a deidade poesia


A exausta diva em derrocada
Ainda se [desen]canta
Sem boca para nada...



De ti apenas a lembrança incerta
É certo que houvera na memória
Mais quimeras que história...


Ardil da ilusão
Quanto mais salto alto
Maior o cárcere da solidão.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

desistir-resistir-existir


 
Nem cogito ficar a sós comigo
que eu bem conheço meu colossal vazio
Eu me angustio
de tanto que distingo o meu feitio
É que Deus me deu
uma alma sem fundo
A maior cava existente nesse mundo
Que nada preenche
nem acalma
Trago ainda vestígios de insanidades
misturados à urgências e saudades
Que me obrigam a distrair-me de mim
Evanesço-me à qualquer delírio
à qualquer frivolidade
Disperso-me por precaução e por prudência
Antes que diante de tanta aflição
eu me enlouqueça
e renuncie à vida
sem nenhum perdão.



sábado, 11 de dezembro de 2010

vida





Eu alvoreço
com raro alvoroço
bem antes do amanhecer
Quando as vésperas
da aurora
singram obstante
a aura madrugada
Quando os zéfiros
sopram claridades
e fazem despertar
almas dormidas
E ainda que
renitente à vida
eu nasço dia a dia
rematada de afetos
Reinventada...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Provação

Pablo Picasso - Woman with Yellow Hair - 1931


 
Praticamente perambulo
num preâmbulo perverso
A princípio e presumidamente
precisava prestar-me a isto
Estava previsto e prescrito
o prenúncio do  precipício
Prevenida presto o prognóstico:
A próxima prova é a privação.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

o encontro



Apresentaram-se
Almas espiaram-se
pelo canto dos olhos
Improvisaram graça
Orçaram a forma
Analisaram o conteúdo
Fizeram a soma
Avaliaram os riscos
Ouviram-se
e gostaram
Mas afinal
Sem compreender
o resultado
despediram-se
Cada qual
para o seu lado

domingo, 5 de dezembro de 2010

proseando

Magritte - The false mirror

Acontece que ao contrário dos insones, não sou de passar as noites em claro..
Justifico que com essa minha alma ansiosa e sentimental, eu não consegui cruzar por essa vida incólume, portanto, recorro por precisão a alguns “recursos” para dormir.
Sintetizando o óbvio, durmo pesado, mas costumo acordar logo cedinho.
Que não pensem que é porque sou um tipo de pessoa madrugadora por gosto ou temperamento, é só que tenho um ouvido apurado e, depois que passa o “sono”, qualquer passarinho mais afoito me acorda. Ficar deitada a toa dói o corpo e atazana a mente.
Então me levanto, obviamente sem muita disposição. Confesso totalmente sem pudor, que não sou daquele tipo de pessoa que se levanta animadíssima. Tenho quase sempre, a parecença e o humor de um zumbi, sendo que meu corpo e cérebro demoram-se mais que o normal para se disporem a funcionar direito.
Aliás, uma parte de mim abomina gente muito feliz, logo de manhã cedo.
A manhã deve ser silenciosa e respeitar o ritmo e a pulsação do desabrochar de uma rosa. Lenta e suavemente, tal os meus neurônios macambúzios.
Pois hoje, acordei cedinho, com a chuva batendo na janela e resolvi escrever sobre algum assunto que ainda nem escolhi.
Gostaria de escrever sobre muitas coisas. De preferência um poema, mas falta-me a inspiração e talvez deva falar exatamente disso!
Do que essa louca (a inspiração, não eu!), comete quando aparece ou ausenta-se ao seu bel prazer.
Poderia escrever, por exemplo, sobre o enorme estrago emocional que acontece com os poetas e escritores em geral, quando as palavras resolvem brincar de esconde-esconde. Uma aflição indizível.
Para onde ela vai essa danada?
Viaja entre mentes e canetas aleatoriamente, ou se esconde caprichosa de tempos em tempos, para se fazer valorizada?
Sei que deve existir um lugar oculto, talvez sagrado...
Um esconderijo impossível de localizar e é lá que a poesia se esconde às vezes. Lá também se esconde a paz de espírito, entre muitas outras coisas.
Lá é a casa dos “clipes” de papel que somem para sempre da sua mesa, das tampinhas de canetas BIC desaparecidas e das faxineiras que sempre pensamos que foram abduzidas, já que se vão de vez, sem deixar vestígios.
É o sítio para onde vão todas as coisas que a gente nunca encontra, até que elas resolvam, por vontade própria, reaparecerem.
Desconfio que seja um “universo paralelo” e que desse lugar, essas coisas conseguem ver nossas aflições, e debochadas riem-se das nossas angústias.
Como se o avesso do espelho tivesse vida própria, e se divertisse com essa imagem reversa. A vida transforma-se num jogo dos sete erros, onde o que nos falta faz falta. É a dimensão irreal para onde tudo que não temos ciência da importância se esconde.
A “palavra” e a “inspiração” costumam fazer conluio e desaparecem sempre juntas, e justamente quando mais precisamos delas. Não é por maldade, mas por pura insolência, coisa que é inerente às palavras. Os poderes a elas conferidos fizeram-nas manhosas.
O sabiá que me acordou antes da hora e apesar da chuva é o culpado por esse texto que deve estar divertindo essa aldeia perversa da outra dimensão.
Devia voltar a dormir...