quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Contradança

A.Brito – Bailado
http://paulo-intemporal.blogspot.com


Não quero mais dançar
conforme a música
a mesma e repetida melodia
Errarei de propósito
cada passo
Perderei por querer
a conta dos compassos
Vou corromper a coreografia
Vou alterar o ritmo
Vou trocar de par.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pensando em Manoel de Barros

Simplesmente

Frank Gonzales

Só quero morder mangas maduras
e deixar escorrer o sumo mundo abaixo
ababalhar pelos cantos da boca sorridente
E na pequeninice das simplicidades
andarolar cantigas de caminheiro
Assear as mãos em rio barrento
esmagando as gramíneas das veredas
com pés bailarinos e descalçados
[Só quero recordar como era ser
antes de crescer e crescerem
os medos e os pusilânimes segredos]
Quero ir sem precisar de epifonemas
ou de indiscrições malfadadas
rir com inenarrável possança
e andar de mãos dadas
com quimeras coloridas
Especialmente no que diz respeito
aos os avoadeiros passarinhos
e as florideiras borboletas
no volitamento das belezuras
Só quero lembrar
como é ser feliz.
(Rossana Masiero)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poesia faminta

Dara Engler

O poema esfomeado
eu rabisco
com faca
E o garfo
espeta o ermo
o intragável
vazio
Ô fome
que eu tenho de tudo
Apetite de comer
o mundo
de entornar aspectos
e escrever poesia
até me danar...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pés pelas mãos


Sem vocação
para o silêncio
queria desvendar
silenciosamente
as indignações
Mas
palradora que sou
Não tomo jeito
nem água com açúcar
Não me calo
E nem enigma
nem explícita
Minha língua
é ferroadas
de marimbondos
que não dou conta de
apaziguar
E incrédula
e atônita
fico a contemplar
os estragos.


Recebi do Tonh0 Oliveira esse poema fantástico.
Adorei e compartilho. 

Outro dia
de tanto andar
construí calos nas mãos.
Não pude acarinhar meus afetos
pois estava de sapatos...

Uso meias para aquecer minhas mãos,
luvas de lã aquecem meus pés!

"No vôlei
bato a saque com o pé.
No futebol bato o pênalti
com as mãos."

Ambidestro não me amestro.
Entre palavras e tapas
pontapés "de letra",
vou jogando pra escanteio
amigos do meio.

Sou feio.

"Sou um vendaval no PUZZLE da rotina.
Sou a farofa na boca do ansioso.

domingo, 14 de agosto de 2011

Era dia



Nem setembro
Nem dezembro
Se bem me lembro
desgosto mesmo
de agosto
Tenho dez anos de saudade
Que até já era tempo
de parar de me lograr
De fingir que ainda está
[lá em casa, quero dizer]
Atento ao portão
com o eterno
cigarro nas mãos
esperando-me chegar
Hoje
pai
era dia
e confesso
que até queria
ir ter com você
Mas essa vida anda corrida
e qualquer hora eu passo
para lhe dar um abraço
Outra hora a gente se
vê...

Hoje, 14 de agosto de 2011, dia dos pais, faz dez anos que meu pai se foi. Muitas saudades...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Chorumelas

imagem do google

A despeito
do que eu faça
Algo em mim
rechaça e afasta
o que persigo
e almejo comigo
Algo em mim
não tem rédea
não ata
não cria vínculo
não dá liga
Deve ser o querubim
antipático
e empedernido
que me reside
a causa da repulsa
que me expulsa
das tribos
dos grupos
dos bandos
E sem amigos
sem eira nem beira
que me ampare
das intempéries
Ando sem forças
para estar...
vivo?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Por amor

Foto de Jorge Stark Filho


Eu me afasto
para poupá-lo de mim
[e do meu entendimento
equivocado]
E por que já está ficando
tarde
tão tarde
que ainda pode dar tempo
Eu me afasto
de tanto que temo
as madrugadas
sombrias e solitárias
e olhos vermelhos
vertendo poesia
E por precaução
eu acalento as noites
com soníferos
Pois só quero que a vida passe logo
sem que eu me dê conta
Eu me afasto
para preservá-lo
de assistir os dias
transformando-me
num pôr-do-sol
desbotado
e sem plural.