terça-feira, 30 de março de 2010

Nostagia

As flores
na verdade
são doenças
Mania
Festa
Ação
São manifestação
da teimosia
da nossa
imagem [ação]
Da festa
Do que ainda resta
de sonho e cor
Das nossas mentes
narcotizadas
Dos nossos corpos
robotizados
e almas
virtualizadas
computadorizadas
Revestindo
as verdadeiras
estruturas
da nosso saudoso
coração
campestre.

terça-feira, 23 de março de 2010

Poema alucinado

imagem do google

Quero uma semântica antiestética
A dialética histamínica e antiética
Uma estóica caneta caravela
Para navegar por minha escrita conturbada
E percorrer oceanos diferentes
caligrafando almas asfixiadas
por regras de palavras instigantes
Distribuir distúrbios falastrões
Conjuminando luares exeqüíveis
a vandalismos salgos e solares
Até que um tsunami ondulante
Desenhe a garatuja suicida
Na poesia da folha molhada

sábado, 20 de março de 2010

Contradições


Não cometo mais
o despautério
[como dizia a minha avó]
de  almejar-te
incondicionalmente
Teu coração é muralha
intransponível
Que escolho ignorar
a padecer de saudade
eternamente
Mas profiro sentenças
vingativas
Eu vocifero maldições
contra o teu pouco querer
Proclamo tua crueldade
Desafio a desfaçatez
com que me ignora
Te afronto
Sou eu apenas
alma despeitada
E a despeito de tanto desamor
Ainda te dedico
os meus poemas...

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Escócia dentro de você...


Careço de memória sensorial dos meus tempos mais antigos, que me façam lembrar como eram meus dias de criança. Alguns fatos isolados eu me recordo bem, mas não consigo precisar como eu me sentia na pré-adolescência, para poder orientar melhor a minha filha de doze anos.

Não me ocorre agora, observando a sua angústia por conta da rotina diária, ter sentido algo semelhante nessa idade. De fato, lembro de sentir-me assim, talvez algum tempo depois, aos dezesseis ou dezoito anos. A partir daí, ficou evidente que a necessidade do inesperado e a ansiedade passariam a me enfeitar a alma como um colar de lindas flores e dolorosos espinhos.

Talvez, seja ela uma adolescente precoce.

Talvez tenha sido eu, uma menina que se demorou em crescer de propósito, numa tentativa intuitiva de se proteger dessa inquietude que persiste até hoje. Não é uma sensação boa.

Como auxiliar uma menininha que tem tudo, e sente-se sozinha?

Tento ser conivente, mas quando as menininhas começam a crescer, cresce com elas uma hostilidade gratuita contra tudo o que representa autoridade.

Sei que ela anseia por gente. Gente da sua idade. Sente falta de amigos que só existem na escola.

Nisso eu era bem diferente, lembro-me bem.

Fui criada num bairro onde brincávamos nas ruas, e que tinha tantas crianças quanto meu pé de limão Taiti tem de frutos. Dezenas de meninos e meninas barulhentos, vivendo a vida no entremeio entre fases como deveria ser vivida: Um pé no flerte sutil e sem perigo com o sexo oposto e outro pé nas brincadeiras inocentes de criança.

Viver não era tão perigoso. De qualquer maneira, moro numa casa onde as ruas são seguras e minha filha poderia brincar a vontade, mas não tem com quem. Não existem crianças por perto e se existem não imagino onde estejam. Talvez no computador, ou vendo televisão...

Quando ela recebe as amiguinhas em casa seu estado é de quase êxtase. Uma euforia que sai dos limites. É uma alegria extrema que quando passa, deixa nela uma espécie de ressaca.

Tentei conversar francamente. Pedi que me explicasse o que sentia e suas palavras literalmente foram: - Eu não agüento mais ficar aqui enquanto a vida está passando. Eu quero fazer um montão coisas. Nada acontece de legal e diferente na minha vida.

Fiquei perplexa sem saber o que dizer e sem compreender direito o que é esse “montão de coisas” que ela quer fazer.

Fingi que sabia e tentei explicar que me sinto assim às vezes, ao que ela contra argumentou que sou adulta e livre. - Mãe, você pode fazer tudo o que quiser! Você pode pegar um avião e ir aonde desejar. O que sabe ela sobre liberdade?

Eu ignorei essa alegação despropositada e retornei ao assunto dos seus sentimentos, Expliquei que além dela e de mim, muita gente se sente assim, e que (apesar de desencorajador), essa sensação não passa com o tempo. É preciso aprender a lidar com isso.

Discorri que momentos de grande alegria são especiais e, portanto raros, assim como os de grandes tristezas, e que a estabilidade da rotina não é assim tão ruim. Ao menos significa que está tudo bem, tudo caminhando como deveria.

Ela ficou decepcionada, obviamente. Sua expectativa era de que a vida fosse uma festa eterna e cheia de alegria, onde não existem deveres, só e apenas prazeres. Quem de nós não gostaria?

Ela disse que queria fugir para a Escócia. - A Escócia é bem longe daqui, justificou.

Essa resposta me fez pensar em mim e no pouco que aprendi nessa minha vida, mas lhe disse com convicção que ninguém consegue fugir de si mesmo. Ela poderia ir para onde quisesse, mas só se sentira bem se descobrisse a “Escócia” dentro de si.

Isso arrancou dela uma imensa gargalhada, o que inesperadamente dissipou sua angústia. - Mãe você devia escrever um livro com esse nome: “Encontre sua Escócia dentro de você!”.

Mais alentada, aproveitei para dizer que sua “Escócia” tem muitos outros nomes e que muitos sonham com um lugar de ser feliz.

Falei de Utopia, Shangri-Lá e claro, de Pasárgada. Fiz questão de ler o poema para ela.

Não sei se ela compreendeu tudo. Perguntou-me o que eram “alcalóides”. Parece que o resto ela já sabia, e no mais, se surpreendeu ao perceber que até Manoel Bandeira queria um refúgio feliz. Intuiu ao menos que não está sozinha em sua aflição.

Em sua meninice espaventada, já saiu tagarelando e cantarolando feliz, como se nada tivesse acontecido. Toda sua “crise existencial” se foi assim num estalar de dedos, enquanto eu fiquei ali pensativa e melancólica.

Como é difícil proteger-se da dor de viver.
.

domingo, 14 de março de 2010

Reformismos


Eu sou literalmente inacabada
E literariamente incompleta
Gramaticamente imperfeita
Mas sigo assim mesmo
instigando meu instinto
desconsiderando a semântica
e pouco menos a estética
Não economizo acento
sou eclética
Prefiro a ênclise discreta
a um hiato eqüidistante
Dedicar-me-ei ao insólito
Usei mesóclise
não me incomodo
Pois da infiel e desleal grafia
Contenho na escrita que me guia
palavras que não se escreve como antes.

Rossana Masiero

terça-feira, 9 de março de 2010

Passatempo


Passa a vida
Passa o tempo
Pulsa o peito
E não te esqueço...

Adormeço
Recomeço
Rimar... rima
mas é mentira

Não é físico
nem visceral
É cósmico
cívico
institucional

Espiritual

Pulsa o tempo
Pulsa a vida
Dói o peito
E não te esqueço...

Entristeço
Envelheço
Rima
e é verdade
É saudade

A vida passa
Passo o tempo

E não te esqueço...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Voar contente



Quero viver a vida
levemente
Como uma criança
em dia ensolarado
Colibri alegre
acelerado
Bicho solto
descomprometido
Eu não quero a vida
assim tão densa
Nem cor escura
nas paredes tristes
Nem carregar
angústias como fardos
Por dias melancólicos
em que vingo
Peço licença
para voar contente
Sob o sol exuberante
com que sonho
Num dia sossegado
de domingo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Qual a intenção do santo
que ouviria
minha prece desastrada
e oportunista?
Decerto
se aperceberia
da minha hipócrita fé
Desistiria de mim
o distinto?
Talvez se comovesse
e atender-me-ia
ao ver o pranto
que me acontece.
Quem sabe vislumbraria
por detrás da suplica
que minto
O tanto de sagrado
e de verdade
no que sinto.






São Miguel Arcanjo por Coljn de Coter