sexta-feira, 29 de abril de 2011

de[s]caminho


Adestrei-me a chorar
discretamente
De fora para dentro
é que minhas
lágrimas vertem
Desapontada de desacertos
os poemas são todos vãos
e minha aflição
é só minha
Logo eu
que esquadrinhava magia
em tudo o que tocava
perdi a convicção
E
a descrença
as falácias
e todas as máscaras
que eu tinha
Elas eram só disfarce
para as dores que eu sentia
entre meus olhos e através
E o tanto de assombro
bem acima do meu ombro
se consolida
pelo rastro dos meus
insensatos pés.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

das audácias


Vladimir Clavijo

O bônus diário de ternura
e a poesia que eu queria ser
nas noites tuas

[tudo anda escuro e sem lua]

Logo no primeiro ato
sou mera coadjuvante
dos meus próprios
medos...


quinta-feira, 21 de abril de 2011

das madrugadas

Katja Faith



Amanheço assim
desguarnecida
de dormências
Tão empoemada
e sentimental
Que meu lirismo
fende a madrugada
e desmesuras me
ensolaram de manhãs
Só sou um vórtice
onde versejam
sonhos mal dormidos
Onde se entoam
junto à insônia
o delírio das fictícias
melodias do poema.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

De propósito.

 Laura Schiff Bean

Esvaneço...

Esvazio-me de mim
para que tenhas
 a nítida percepção
de como sou farta

quando estou...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

do agastamento

Aliette

Pois é mesmo
muito bom
que me confesses
sem constrangimentos
e sem nenhuma
compaixão
com a franqueza
que lhe é tão habitual
qualquer pretensão
por melhorar
a maneira
de me tratar
Que eu ao menos
tendo ciência
aplaco minha
consciência
excomungo a minha
santa paciência
esconjuro
minha resignação
e vou buscar
outro aconchego
para aninhar
meu coração.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

eu

Miles Donovan


 
Mistura de criaturas
Sumo de tudo
Resumo
Súmula
Fundo de mim
Fim de mundo
Resquício
Precipício
Jeito sem jeito
Trejeitos
Ritmo
Signo
Sopro
Um pouco
Um tanto
[nem tanto]
de tudo.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

desencantos


Frances J Melhop


Sem ideais
resta-me
além do cinismo
e da descrença
a poesia
Que não promete
nem compromete
não falseia
nem engana
A poesia é o próprio
desengano
paradoxalmente
lúcido.

sábado, 2 de abril de 2011

Preconceito e hipocrisia

Desenho de Maithe Masiero com intervenção digital

Eu precisava de um guarda-chuva para esses tempos chuvosos, cujas “águas de março” fecham muitas coisas, além do verão.
Ele estava lá, na frente da loja, aberto, lindo e colorido como um arco íris circular.
Como de cinza já bastam os dias de chuva, não tive dúvidas, comprei-o imediatamente, sentindo-me feliz como uma criança com seu brinquedo novo.
Nunca torci tanto para chover, e, na primeira garoa lá fui eu toda prosa para o trabalho, com meu poderoso protetor policromado.
Já no caminho percebi alguns olhares curiosos que ignorei, e, chegando ao trabalho, depois de devidamente “zoada” por colegas e estagiários, fui alertada que estava portando um símbolo gay.
Símbolo gay?
Que bobagem!
Óbvio que conheço a bandeira do arco-íris criada pelo artista Gilbert Baker (descobri isso pela internet). A bandeira com as cores do arco-íris foi usada na parada do orgulho gay de San Francisco e desde então foi adotada como um emblema da união dos gays do mundo todo.
Mas hellou!?!
Não sou porta estandarte de nada. De qualquer forma, vale ressaltar que o intuito dos vários matizes é exatamente chamar a atenção para a diversidade e a tolerância. Então, dá licença de eu usar meu guarda-chuva lindo e colorido, sem precisar ser rotulada?  Gente chata!
Não me incomoda nem um pouco pensarem que sou gay, visto que não acho nada de mais nisso. Aliás, pouco me interessa a orientação sexual das pessoas nesse “mundão aberto e sem porteira”, e acho sinceramente, que cada um é dono da sua vida.
Interessam-me pessoas e seu conteúdo.
Dito isso, informo que todo o escrito acima, foi um preâmbulo, pois meu amigo Eraldo Rodrigues me propôs escrevermos juntos sobre homossexuais e suas dificuldades.
Ele, no blog dele (eraldopaulino.blogspot.com) e eu, no meu.
Porque nós?  
Não faço a menor idéia já que ambos somos heterossexuais, até onde sei.
Penso que é porque o Eraldo é um idealista, um militante ferrenho dos direitos humanos em suas infinitas nuances e tenho a impressão de que ele observou que partilhamos do mesmo respeito ao próximo, independente de raça, credo, cor, orientação sexual, nível social, econômico, etc., etc.
Abusada que sou, topei e arrisco-me então nessa brincadeira séria, porque também tenho grandes amigos gays e, apesar de não ser uma perita nesse universo, eu conheço e amo os meus amigos, portanto quero vê-los felizes e realizados.
Isso significa apoiar irrestritamente todos os “movimentos” que tenham esse poder, incluindo o casamento e a adoção.
Existe muita polêmica sobre este assunto especialmente (adoção), pois algumas correntes de pensamentos (tacanhos e conservadores), alegam que uma criança não deve ser adotada por casais gays, por conta da “dificuldade do reconhecimento perante a sociedade, da existência de um núcleo familiar homoafetivo”.
Ai ai! Quanta hipocrisia!
O outro motivo alegado, seria a consequência gerada aos adotados, já que ficam sem referências do modelo “aceitável” de família.
Heim?
Do alto da minha ignorância, gostaria de saber que “referências” são essas?
Que modelo é esse, especialmente nesse país, onde a família é uma instituição falida, onde crianças são abandonadas, jogadas fora ou criadas na miséria por mães adolescentes e/ou sozinhas, e em último caso, por instituições incompetentes?  .
Isso é “aceitável”?
            Quem poderá ter mais dedicação a uma criança que duas pessoas que se amam independentemente do sexo que tenham?
Não se pode ignorar o direito dos homossexuais à adoção e nem os benefícios trazidos à sociedade, em decorrência da formação de um novo lar aos adotados, isso é fato.
Lar é lar e o conceito de família tem quer ir além do gênero das pessoas que a compõe.
Digam-me ainda: Que criança não gostaria de viver num lar abastado de afeto e num mundo mais alegre e colorido?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dos aprendizados

Aliette

As sobras de mim
você esconde
e não joga fora
Faz-me poeira
sob o tapete
Sujeira
que não se olha
Mas também
não se aferrolha
E sem escolhas
[instinto de sobrevivência]
esparjo minhas aparas
exalo e esvoaço
sou fuligem
Eu volito por ai
meus cavacos
sem escoras
Sou farpas
que não se cata
cacos que não se cola.
Encontrei meu jeito
de ser livre.