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Li um dia desses, num livro de Rubem Alves (a quem dedico um amor incondicional), que “os homens são seres que perderam a confiança dos pássaros”.
É bem verdade isso, mas não o meu bem-te-vi!
Sim, eu tenho um bem-te-vi, que de fato não é meu pois ele é livre, mas preocupa-me como se fosse.
E o tal - que habita os arredores do meu quintal - é muito abusado, e se não confia em mim, decerto que não demonstra, pois é visivelmente confiante de si mesmo. Não sei exatamente onde mora, pois deve ser um bon-vivant, sem residência fixa, nem nada.
Ele é um cara, digo, um pássaro enturmado e deve ser o falastrão da turma de passarinhos que voa pelos fios da minha rua e visitam as árvores do meu quintal. Chama todo mundo pra conversa e faz isso bem alto, com seus outros amigos bem-te-vis, sem papas naquela linguinha que só quem é passarinho entende. Chega a ser uma afronta a sua cantoria descaradamente alta.
Além de animadão, o meu bem-te-vi é corajoso!
Explico: Tenho uma cadela vira-latas que faz de tudo para me agradar, e por algum motivo inexplicavelmente mórbido a bichinha achou de me presentear com pássaros mortos.
Já tentei fazê-la entender (com conversas, gritos e até ameaça de chineladas), que não precisa fazer isso para me mimar. Aliás, que ela está terminantemente proibida de matar passarinhos!
Fato é, que ela ignora solenemente minhas explicações e intimidações. Passa os dias pulando e correndo atrás de passarinhos e vez ou outra consegue pegar um pardal ou uma andorinha desavisada, depositando o coitadinho sem vida orgulhosamente, na soleira da minha porta.
Sei que não é por mal, mas fico consternada. Isso lá é homenagem que se faça?
Se já não gosto de passarinho preso, que dirá morto...
Mas o danadinho do bem-te-vi não se impressiona e provoca minha cadela ignorando seu talento de Diana. Desce gritando (leia-se “piando”) feliz, tira uma rasante e arremete, peralta. Corre riscos despropositados.
Talvez não compreenda o perigo que é cair na boca de um cachorro adulador e sai por aí contando suas proezas para os outro da sua laia, conversando alto como lavadeiras.
Azucrinam-me com tanto “piatório”, desdenhando a ameaça e a minha presença.
Mas depois me dou conta da minha sorte, por ser uma pessoa que não intimida passarinhos.
Tom Jobim se orgulharia.
Rubem Alves também.