domingo, 5 de dezembro de 2010

proseando

Magritte - The false mirror

Acontece que ao contrário dos insones, não sou de passar as noites em claro..
Justifico que com essa minha alma ansiosa e sentimental, eu não consegui cruzar por essa vida incólume, portanto, recorro por precisão a alguns “recursos” para dormir.
Sintetizando o óbvio, durmo pesado, mas costumo acordar logo cedinho.
Que não pensem que é porque sou um tipo de pessoa madrugadora por gosto ou temperamento, é só que tenho um ouvido apurado e, depois que passa o “sono”, qualquer passarinho mais afoito me acorda. Ficar deitada a toa dói o corpo e atazana a mente.
Então me levanto, obviamente sem muita disposição. Confesso totalmente sem pudor, que não sou daquele tipo de pessoa que se levanta animadíssima. Tenho quase sempre, a parecença e o humor de um zumbi, sendo que meu corpo e cérebro demoram-se mais que o normal para se disporem a funcionar direito.
Aliás, uma parte de mim abomina gente muito feliz, logo de manhã cedo.
A manhã deve ser silenciosa e respeitar o ritmo e a pulsação do desabrochar de uma rosa. Lenta e suavemente, tal os meus neurônios macambúzios.
Pois hoje, acordei cedinho, com a chuva batendo na janela e resolvi escrever sobre algum assunto que ainda nem escolhi.
Gostaria de escrever sobre muitas coisas. De preferência um poema, mas falta-me a inspiração e talvez deva falar exatamente disso!
Do que essa louca (a inspiração, não eu!), comete quando aparece ou ausenta-se ao seu bel prazer.
Poderia escrever, por exemplo, sobre o enorme estrago emocional que acontece com os poetas e escritores em geral, quando as palavras resolvem brincar de esconde-esconde. Uma aflição indizível.
Para onde ela vai essa danada?
Viaja entre mentes e canetas aleatoriamente, ou se esconde caprichosa de tempos em tempos, para se fazer valorizada?
Sei que deve existir um lugar oculto, talvez sagrado...
Um esconderijo impossível de localizar e é lá que a poesia se esconde às vezes. Lá também se esconde a paz de espírito, entre muitas outras coisas.
Lá é a casa dos “clipes” de papel que somem para sempre da sua mesa, das tampinhas de canetas BIC desaparecidas e das faxineiras que sempre pensamos que foram abduzidas, já que se vão de vez, sem deixar vestígios.
É o sítio para onde vão todas as coisas que a gente nunca encontra, até que elas resolvam, por vontade própria, reaparecerem.
Desconfio que seja um “universo paralelo” e que desse lugar, essas coisas conseguem ver nossas aflições, e debochadas riem-se das nossas angústias.
Como se o avesso do espelho tivesse vida própria, e se divertisse com essa imagem reversa. A vida transforma-se num jogo dos sete erros, onde o que nos falta faz falta. É a dimensão irreal para onde tudo que não temos ciência da importância se esconde.
A “palavra” e a “inspiração” costumam fazer conluio e desaparecem sempre juntas, e justamente quando mais precisamos delas. Não é por maldade, mas por pura insolência, coisa que é inerente às palavras. Os poderes a elas conferidos fizeram-nas manhosas.
O sabiá que me acordou antes da hora e apesar da chuva é o culpado por esse texto que deve estar divertindo essa aldeia perversa da outra dimensão.
Devia voltar a dormir...

24 comentários:

Unknown disse...

a poesia ajuda a quem cedo madruga, como diz a canção "eu faço samba e amor de madrugada e tenho muito sono de manhã",


beijo

Unknown disse...

Ross LINDA!

Ao contrário, eu acordo sempre muito feliz. Não deixe de ser minha amiga por isto. Please!

As palavras, mesmo escondidas, não são perversas, são divertidas....gostam de brincar. E entre o canto do sabiá e o seu, fico com o último!

Viu como foi bom acordar cedo e escrever?

Beijos, linda amiga!

Mirze

Anônimo disse...

tô do lado de cá cheio de canetas bic.

Dilberto L. Rosa disse...

Olha, não só da outra dimensão, como desta: que conversa fiada é essa de "sem inspiração"?! Criar sobre o vazio, o nada e o "não-inspiracional" é para poucos, e você o faz com leveza: afinal, explicaste-me, por exemplo, sobre aonde vão minhas tampas de caneta Bic (adorei isso!)!

Menina, deixe os passarinhos cantarem: eles nos acordam para coisas boas, sempre: ainda que levantemos com um mau humor daqueles, querendo acabar com a fauna local,especialmente a que canta nas janelas alheias!

Ei, psiu, um ultimato: cadê meu email?! Falei sério quanto ao fã-clube: os meninos aqui já estão querendo o dinheiro das carteirinhas de volta se eu não aparecer com algum material logo... Trate de me enviar logo, senão não volto mais aqui, hein?!

Abraço bem grande, diva sempre inspirada!

Flavio Ferrari disse...

Que delícia que é postar sem destino .... bjs

Anônimo disse...

e agora? com um texto desses como não sair daqui derramado, rs [vc sabe que me derramo fácil quando a coisa é bela, e aqui é muito]

lindo lindo, parabéns!

beijo
G

Anônimo disse...

A parte do despertar está em sintonia com meu último texto, adoro essas coincidências de almas poéticas =)

Beijo, flor.

Eraldo Paulino disse...

Antes de mais nada, não pense que sou eu um bloguista que costuma rasgar seda a todas as poetizas lindas, com voz gostosa e apaixonantes que eu encontro. Me rasgo aqui porque não dá pra ser de outra forma se quiser ser sincero.

Por isso, não dá pra não falar da magia que acompanham os verdadeiros poetas, e que brilha de forma tão intensa em ti e no teu batom. Você faz versos até mesmo enquanto dorme, meu bem.

Bjs no batom!

Batom e poesias disse...

Assis, eu cantava essa música outro dia...
Coincidência...
Bjcs

Batom e poesias disse...

Mirze, jamais querida!

Meu mau humor dura pouco, muito pouco...
bjs

Batom e poesias disse...

Fouad, estão elas sem tinta?
Cadê você?

bj

Batom e poesias disse...

Dilberto meu amigo, não me esqueci de você, não.

É só esse final de ano que chegou antes do meu relógio emocional e me pegou desprevenida...
Entro em contato.
Bj

Batom e poesias disse...

Flávio, que delícia...
bjcas

Batom e poesias disse...

Ô Geraldo...
Andava eu pensando que nunca mais diria isso...
Saudades.
Bj

Batom e poesias disse...

Vou correr para ler, minha amadinha.
Sempre em sintonia.
Bjs

Batom e poesias disse...

Eraldo,
Gostei disso...

O batom retribui o beijo.

HAMELIN disse...

lINDO AMIGA !!!!!!!!
BESO DESDE URUGUAY !!!!!!!!
FEDE

MariaIvone disse...

:) :) :)

Eu sou assim! É horrível! Há um espaço de tempo entre o dormir e o acordar em que qualquer perturbação dá mau feitio. Sorte que é breve, minha família se esconde, meus alunos respeitam.
Quanto ao universo paralelo onde se esconde tudo o que, imperiosamente, no momento precisamos, já deixo pra lá. Se levasse em atenção, estaria certamente numa angustia permanente ou a tomar anti-depressivos. Tenho que dizer que se trata de um mecanismo de auto-protecção no sentido de precaver situações futuras: a insanidade aumenta com a idade e um dia, se o caminho se alongar, o melhor é dar o salto e passarmo-nos para essa aldeia da outra dimensão, onde pelos vistos, toda a gente se diverte.

Como sempre adorei seu texto. Quem diz ~que falta a inspiração!?

beijos minha querida

Batom e poesias disse...

Gracias Hamelin
besos!

Batom e poesias disse...

MariaIvone...

Adorei o comentário.
Beijos, amiga!

Dario B. disse...

Uma vez escrevi sobre isso tambem, Se por acaso espiar do outro lado, me diz se minhas coisas andam por lá. Um bjo, gosteimuitodetudoisso.

Anônimo disse...

fui abduzido...

Batom e poesias disse...

Acho que não quero espiar lá não, Dario...rss
Ainda não.

bj

Batom e poesias disse...

Fouad

Volta menino...
bj