segunda-feira, 6 de abril de 2009

Batalhas, borboletas e poemas



Algumas pessoas que tem apreço por mim e conhecem um pouco da minha vida, perguntam-me como consigo dar conta das minhas coisas...
Acho essa pergunta engraçada, porque minha verdadeira guerra não é combatida externamente com os problemas diários. Meu combate é sempre interno, luto comigo mesmo. Não que as dificuldades diárias não me abalem, nem me afetem, e faço um "mea-culpa " confessando que por vezes aproveito-me delas (dificuldades) para "chorar as pitangas", uma forma de lamúrio com a intenção de arrebanhar comiseração e angariar um pouco de cumplicidade e simpatia das pessoas. 
No fundo queremos mesmo ser alentados, animados. 
Queremos colinho... 
Portanto, por falta do que melhor fazer, elaborei uma estatística: Nove pessoas e meia entre dez, não são absolutamente afetadas por essa estratégia. Não faz nenhum efeito. Experiência própria! 
Talvez, meia pessoa sinta pena e se envolva verdadeiramente no problema e na dor do outro, mas o restante, que pode até esboçar uma leve compreensão, não vê a hora de fugir do chorão. Falei em "meia pessoa", não por achar espirituoso cortar pessoas ao meio como fazem os estatísticos, mas porque verdadeiramente, jamais estamos inteiros em situação alguma. 
Nem na cumplicidade, nem na obsessão, nem mesmo na compreensão da dor alheia. Aliás nem da nossa própria dor. Existe sempre uma parte de nós em fuga perpétua da outra parte. Questionando o sentimento. 
E isso é a tal guerra interior que lutamos, que eu luto diariamente. 
Tento exprimir meus combates e batalhas através de poemas, e o poema é uma forma abreviada de manifestar o essencial da prosa, pois esta viaja sem rotas, como os pensamentos, perdendo-se em psitacismos, que sempre acompanham o raciocínio humano. Pelo menos o meu. 
Mas a poesia, como já falou Rubem Alves, é a busca da Palavra essencial. 
Como é difícil e belo esse exercício de compactar e capturar todos os sentimentos e pensamentos e transformá-los em poesia. Um processo delicado na busca de sentimento e de sintaxe, em que a verdade nunca é absoluta e uma metade de dentro de nós quer escapulir. 
Porque dói parir poemas. 
Dói mais que escrever uma crônica, que é a delícia de se deixar fluir através do palavrório gostoso que viaja pelas lembranças, pelos afetos, por sonhos, experiências, opiniões, questões... É derramar-se em palavras, é enfim uma exposição do todo, somado tudo o que somos. 
Nos textos eu deixo as metades de mim conversarem e as vezes uma fala mais alto que outra. Às vezes essas metades se dividem em mais metades e novamente, infinitamente, até que eu fique picadinha em milhões de caquinhos de sentimentos e pensamentos... Incontáveis borboletinhas que aprenderam a falar, gritar, umas só sorriem, outras choram. Repentinamente se juntam novamente, mas nunca chegam a ser um Eu inteiro... 
Eu sou sempre duas ao menos e milhares ao mais. 
Os problemas cá da Terra, parecem tão pequenos quando nosso eu está voltado para dentro, buscando expressar-se... Toda dor diária fica pequena diante da imensidão universal que cabe na alma humana. Suas pequenas e grandes dúvidas, pequenas e grandes crenças. Pequenas e grandes batalhas... 
Para tentar ser mais sintética, recorro novamente ao meu querido Rubem Alves: "A gente só cria quando aquilo que se tem não corresponde ao sonho. Todo ato de criação tem por objetivo realizar um sonho. E quando o sonho se realiza, vem a experiência de alegria."   
Então, se para criar é preciso estar não muito feliz eu aceito a infelicidade como uma benção, pois escrever é maior que todo prazer.

7 comentários:

Fred Matos disse...

Muito bom texto.
Beijos

SANDRA REGINA disse...

LINDO LER-TE.

Amiga do Cafa disse...

A arte nos salva !
Quem cria, cria pq gosta e não pq está triste.
Cria por ter algo a dizer. Quem tem algo a dizer transforma em arte através da poesia ou da prosa.
A criação nos liberta ! Torna melhor o nosso mundo interno.
Buda já dizia que a guerra é dentro da gente !
Não duvido das palavras dele.
Concordo. A luta é interior. Viemos ao mundo para nos tornarmos pessoas melhores para nõs e para os outros.
Valeu pela sua opinião no blog. Sim, ele é uma pessoa apaixonante, mas um dia a gente acorda e percebe que somos mais apaixonantes ainda. E tiramos o time de campo...deixando o outro à diriva.
Já falei demais !
Bjs

Thaís Butterfly εїз disse...

Dá pra se escrever sendo feliz. Infelicidade nunca é bom!

Ahhh e quanto a história do chorão é verdade, ninguem aguenta uma pessoa que se lamenta o tepo inteiro rs-*

Eu sou chorona, mas tive que diminuir porque nem minha ma~e estava me aturando .. rs-*

j. monge disse...

às vezes fico sem palavras quando te leio porque fico só pensando, pensando, pensando...

e o teu maravilhoso texto me fez pensar assim:
Eu não sou eu, eu sou apenas o que escrevo e que escrevendo se escreve. E escrevendo me desmultiplico na eterna tentativa de, apanhando meus cacos, me reciclar numa versão melhorada de mim.
Beijo!

TECHWARE BRASIL disse...

Querida Poetisa,

Muitas frases que são ditas, como:

"Mas que seja eterna enquanto dure"
Vinícius de Moraes

São interpretadas com tanta mediocridade, até por serem usadas fora do contexto e numa conotação pejorativa, o que fere o poeta e sua arte, como um punhal em brasas em seu peito.

Só nós, e pessoas sensíveis ao belo, desapegadas de tantas futilidades, conseguimos captar a nobreza e a essência da diversidade dos significados nobres que uma boa obra nos faz viajar.

Beijos e boa pascoal.

Roberto Ramos

Dhuda, A little more, on me disse...

Tudo vale como inspiração, estando feliz ou não! Bom D+. Dhuda