Foto: Wilson Junior
(Dialogando com Lara)
Eu também tenho uma velhinha
que nem é muito minha
Ela me adotou
e o destino a dotou
de raízes
que ela insiste em fincar
na existência
a resistente
Mesmo doendo
o que é possível doer
Sem poder fugir
ou crescer
Metade do tamanho
da mulher que foi
um dia
[Velhice é a grande piada
de Deus com a humanidade]
Decreptude
dize-me onde está a poesia?
Na repetição desumana
do dia a dia?
Nas costas arcadas?
Nas fraldas encharcadas?
Na pele enrugada?
No fedor e na solidão?
Olhos opacos e perdidos
num passado sem cor
espiando lembranças
expiando...
E um terço nas mãos
Sem esperas
nem sonhos
Só dor...
Prioridade é viver?
16 comentários:
desconcertante,
beijo
Costumo dizer que Deus tem um humor bem estranho, como já dizia Cássia Eller..."Deus é um cara gozador, adora brincadeira!" Rs
Beijos pra Ti
Uau, Ross! O título ficou sensacional; o poema, um soco na boca do estômago.
Obrigada por dialogar comigo, por misturar sua poesia à minha nessa cumplicidade que só nós sabemos como é.
Um beijo, minha linda!
Silêncio, Exilio, Astúcia (James Joyce)
Muito próximo de ser novo essa seu poema brigão!
Nielson ALves
↓
"PhotoShopear a alma é uma solução"!
:)
ROSS!
Esse diálogo com Lara é de arrepiar!
Minhas duas grandes deusas-amigas juntas, hão de fazer Deus ter mais piedade com os velhinhos que sofrem!
Amo vocês!
Beijos
Mirze
A vida é cruel e a tua poesia - por mais bela que seja, e é-o - também. E é assim que ela deve ser. Como disse Joan Margarit num poema: "não há mais nada. A poesia é agora a última casa da misericórdia".
À tua interrogação fundamental, respondem muitos afirmativamente, com a mais descarada hipocrisia, filosófica ou outra.
Tu e Lara são mesmo almas poéticas umbilicalmente ligadas. Maravilhosas almas, e não só poéticas.
Um abraço que abrace as duas por inteiro. E um beijo terno.
e que grande conversa entre as duas..*
Amiga, qualquer palavra acrescida seria excesso.
Beijo
Puseram-me assim...a matutar ainda + num assunto que me incomoda .
o que é bom!
beijo
OLha, Poesia não se responde (no máximo é em "feitio de oração", como dizia o Poeta maior da Vila), mas, como questionamento rouco de tuas verves poéticas mais profundas (pelo menos foi o que se captou), vejo Poesia até na decrepitude... Poesia triste, lacônica, daquelas que sabem pegar um grande verso e fazê-lo curvar sobre si mesmo, para ver que, no fundo, ele ainda tinha muito a aprender com o resto da estrofe... E também para fazer com que os acéfalos de Poesia que viviam em volta daquele poço de vida e saúde possam, enfim, ter certeza que Poesia também definha, para, no fim de tudo, saber renascer... Mas sempre assim, reaprendendo, revivendo... Afinal,
"Ofereçam-me pêsames
Pois que nada ressuscita
o viço da poesia."
Será? Acrescentaria (quem sou eu diante desta diva do 'jazz' e da Poesia livre, leve e solta?!) ao último verso a derradeira palavra "perdida", pois que, sim, a Poesia ressuscitará logo após o derradeiro enrugamento - vá por mim, "já conheço os passos dessa estrada", mas sei que todas levam a algum lugar...
E viva a velhice, que é o doente recordar da Poesia até seu último suspiro antes de renascer criança...
Tudo isso para lhe desejar um mais que feliz e musical 2011 (uma vez que não estava por perto, acabei botando minha leitura por aqui em dia e me aprofundando no comentário, graças à inspiração toda daqui...)! Abração para toda a (talentosa) família!
há mto tempo q não vinha aqui!...e tudo por aqui está diferente; essencialmente a tua poesia. Está melhor e mais incisiva.
tente encontrar o poema When You Are Old, de W. B. Yeats...é um poema que se completa com esse teu
...
um beijo
Amiga, teu poema me impeliu a postar no "acontagotas" meu sentir sobre "os desenhos da Carlota". É um rascunho, jamais seria para publicar, mas o impulso deu forte.
Beijo com carinho
Nossa! Lindo!
expiando
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