segunda-feira, 25 de maio de 2009

Receita errada

 
Eu quis fazer um bolo saboroso
um deleite doce e apetitoso
pra se comer junto a um café quentinho
num entardecer da vida aconchego
Uma guloseima que não mata a fome
mas que lambuza de prazer
a língua de quem come
e nutre a alma de esperança

Pedia a receita igual medida
em quantidades infinitas
do trigo do amor e da amizade
E duas xícaras do açúcar da paixão
Uma colher de afeto era o fermento.
E tudo se misturava dentro da cumbuca do coração
Podia adicionar um naco de saudade e de história
Eu os tenho bem guardados no armário na memória
E uma pitada de sal bem ao meu gosto...

E foi assim, que por medo de ficar insosso
cometi o engano indesculpável
O sal era o egoísmo era a cobrança
que deveria ser usado só um tantinho
com muita temperança...
para neutralizar o melado das lembranças
e realçar o sabor da emoção.

Perdi-me entre tantos ingredientes
Errei a mão sem ter percebido
Pus para assar o erro cometido
e agora eu tenho um bolo intragável
Não há ninguém para comer comigo
Não é possível de ser digerido
Não é passível de ser mastigado
Ficou salgado e está tudo perdido

Estou faminta frente ao bolo desandado
E o café esfria na mesa da solidão
Tenho ainda tantos ingredientes
Tenho o trigo do amor e da amizade
E a afeição que faz crescer a massa
Ainda resta paixão dulcificada
E na despensa, história o bastante
E saudades, então, eu tenho aos montes

O sal do egoísmo, eu joguei fora
O saco inteiro pra não ter tentação...
Eu usaria em seu lugar se me emprestasse
Uma xícara cheia de perdão
E eu faria outro bolo novamente
E daria todo ele de presente
Ao poeta que me alimenta o coração.

4 comentários:

Whesley Fagliari disse...

Querida Rossana,

Fiquei com muita vontade de tascar um pedaço demasiadamente grande deste bolo... Saboroso o texto! Parabéns!

Luz e paz!

Com carinho,
Whesley

Unknown disse...

Amei a receita-poema!

O bolo, o pão e outras receitas que precisam da dose certa, são símbolos do amor e da partilha.

Poema muito lindo. Eu aceito o bolo, e divido o que restou na despensa.

Parabéns, Rossana!

Beijos

Mirse

j. monge disse...

A poesia é para comer!
Eu comia uma fatia do teu bolo errado. Claro que sim! Mas como está egoisticamente salgado trocava o café por uma taça de vinho tinto.

Do teu bolo certo, abençoado seja quem o provar, porque alimentou o que a tantos alimenta.

beijo, poeta Rossana!

Amiga do Cafa disse...

Poesia cheia de carinho !
Doce e lindinha.
Mesmo que exageremos no tempero, sempre
há tempo de fazer outro bolo, retirando o sal do egoísmo.
Cobrança acontece mesmo !
O importante é quando estamos cientes .
Adorei " E o café esfria na mesa da solidão".
Não deixa esfriar, não !
Olha....essa foto está apetitosa D+.
Se você fizer um bolo do jeitinho da foto vai ficar irresistível. ( risos )
Beijão !