sexta-feira, 19 de junho de 2009

Reminiscências...

Elton John foi minha primeira paixão! Quem diria que eu confessaria isso aqui assim tão corajosamente? Pois é, aos 11 anos eu me apaixonei por Elton John e sonhava conhecer o cara que cantava com aquela voz cálida e tão máscula o hit do momento, que era a música “Goodbye Yellow Brick Road”. Paixão platônica. Menina ingênua (juro) nem imaginava as nuances dos desejos humanos e nada sabia sobre homossexualismo. Naqueles tempos só sabíamos o que aprendíamos nas brincadeiras de rua, nas conversas com as amiguinhas e posso jurar que este não era um assunto de relevância, ao menos para nós. Nada disso foi explicado em casa ou na escola e, portanto nem desconfiávamos. Talvez até fosse um tabu na época e como não existia a internet com sua ilimitada enciclopédia mundial e seus sites de relacionamentos além de outras diversas possibilidades, não tínhamos como saber de muita coisa além do nosso universo restrito. Também não existiam canais de fofocas nem TV a cabo. Como será que sobrevivemos a isso? Nossa única semelhança com as meninas atuais é que até hoje, se uma garota tem um ídolo, ela tem esperança (leia-se "obsessão") de que um dia irá conhecê-lo e ele se apaixonará por ela. Era assim comigo e com Elton. Não me lembro de jamais ter visto seu rosto totalmente. Apenas nas fotos esdrúxulas das capas de seus discos de vinil, que eu, menina de cidade do interior e filha de professores, pouco tinha acesso. Chegavam até nós, algumas coleções de música clássica que meu pai comprava com dificuldades semanalmente ou quinzenalmente nas bancas de revista. Tínhamos também uma coletânea da Abril Cultural de MPB que me possibilitou ser apresentada aos clássicos da nossa música popular, desde Ari Barroso, Noel Rosa, Dolores Duran, Herivelto Martins entre outros, passando pela bossa nova chegando até a tropicália. Não posso negar que isso me trouxe uma boa bagagem cultural e agradeço a meu pai por isso, mas eu queria mesmo o vinil do tal inglês. Depois de tanto pedir, ganhei enfim o Long Play “Goodbye Yellow Brick Road” no meu aniversário de onze ou doze anos. Quanta emoção! O primeiro LP ninguém esquece! Eu ouvia na "vitrolinha" coletiva que eu e meus irmãos tínhamos ganhado no natal anterior. Aquele homem cantando me encantava, e eu decorava as letras que nem sabia o significado e lembrando-me agora do último show dele recentemente no Brasil, que foi televisionado com a legenda das letras traduzidas, melhor a ignorância. Naquele tempo, até chorava comungando a melodia com minhas emoções hormonais. Percebo hoje, que isso começava a delinear que tipo de mulher eu seria. Não pelo fato de gostar de pop inglês ou da música, mas pelo tipo de pessoa que me atraia. Nada de óbvio. Não gostava do menino bonito da “Família do-ré-mi”. Imagine! Não tem a menor graça! Eu tinha mesmo é que me apaixonar pelo homossexual inglês, problemático, que gostava de sapatos plataforma, chapéus e óculos gigantes. E nem bonito era, coisa que só ficou explícita, muito tempo depois. A beleza nunca foi apreendida por mim da forma genérica e acho positivo que existam pessoas de “gosto duvidoso”, pois que a unanimidade tira as chances do que é diferente e fora dos padrões. Entendo estética como sendo extremamente pessoal e no meu caso talvez seja atávico. Desculpa vô. Infelizmente, ou felizmente, minha paixão por Elton foi substituída rapidamente quando meu pai apareceu em casa com o LP “Construção” de Chico Buarque que tinha sido lançado alguns anos antes, em 71. Paixão fulminante que confesso, sem reservas, resiste até hoje. Posso até afirmar que Chico Buarque foi o grande amor da minha vida e que tive que terminar com ele por conta da unilateralidade. Neste caso, devo render-me à unanimidade e até por isso, não houve muitos problemas quando "namorávamos". Meus pais até aprovavam “nosso” amor, mas cansei de sofrer pela falta da contrapartida. Como nunca gostei de solidão, na minha leviandade de menina, logo depois de "terminar" com Chico Buarque, quase apaixonei-me novamente. Agora por um outro inglês, também estranho, chamado Freddie Mercury, que na época tinha cabelos compridos e usava um macacão branco decotado e colado ao corpo e era vocalista do Queen. Seus trajes eram um pouco ousados, mas muito interessantes. Ainda não sabia que ele também não era “hétero” (acho que nem ele sabia), coisa que muito pouca diferença faria na minha vida, até que descobri que ele era casado. Não podia gostar de homens casados. Era uma menina "direita" e, portanto abdiquei estoicamente de Freddie. Totalmente desiludida, comecei a ler poemas e volúvel com sou, de cara me apaixonei por Vinícius de Moraes, que além de poeta, era compositor e boêmio, coisa que sei lá porque, me atraiu muitíssimo. Na época, acho que ele estava separado da oitava mulher e jurei para mim mesma, ainda menor de idade, que iria conhecê-lo e seria a nona e última esposa dessa enorme lista. Parece que ele se casou de novo (não foi comigo), e faleceu antes de saber das minhas intenções! E assim, sem mais nem menos fiquei viúva do poetinha. Em 09 de julho de 1980 (data de falecimento do Vinícius) eu desisti de ter ídolos, mas continuo apaixonada por Chico Buarque.

23 comentários:

Vinicius disse...

Rossana gostei muito do seu texto, e humildemente acho que foi o texto seu que mais gostei de todos que já tive a oportunidade de ler aqui. Como você está? Sumiu. Não tem mais aparecido no Folhas. Ótimo final de semana.

Abraço,

R.Vinicius

Batom e poesias disse...

Grata pelo comentário Vinicius.
Não sumi não, e passo sempre pela tua casa.
As vezes apenas não deixo rastros por pura falta de tempo.
Abração

Unknown disse...

Ontem postem, mas não entrou meu comentário, i.é. a caixa não feixou.
Enfim voltei para confirmar e dizer, que achei fantástico seu poema.

Que também passei por Elton , Chico...deuses de nossa juventude, que em forma de anjos nem sonhamos que falem, só pensem.

Adorei essa postagem

Humana e real como você.

Beijos, Rossana

Mirse

Batom e poesias disse...

Humano e real como nós, Mirse.
Bom partilhar saudades.

beijos querida

Renata de Aragão Lopes disse...

Adorei o texto!
Bem escrito, divertido - perfeito para um sábado à noite, em família.
Beijo e bom domingo!
Obrigada pela visita ao doce de lira!

Batom e poesias disse...

Obrigada, Renata.
Tua casa é mesmo um doce.
beijão

BAR DO BARDO disse...

Entendi, você é poeta porque levou um fora do Chico...

Amiga do Cafa disse...

Grandes e belas paixões.
Adoro Elton John até hoje! A música “Goodbye Yellow Brick Road” é divina. Fui lendo seu post com ela na cabeça.
Vou dar uma olhada no youtube para escutá-la.( risos )
Bom, Chico, eu gosto, mas nunca fui apaixonada !
Quanto ao Vinícius, ele foi casado 9 vezes.
Eu o considero o maior poeta brasileiro.
Ler os poemas de Vinícius é chegar até as nuvens mesmo estando na terra.
Gostei.
Boa semana !

Batom e poesias disse...

Você anda bebendo muito nesse bar, Henrique.
bjcas

Batom e poesias disse...

Concordo plenamente, Amiga do Cafa. O poetinha é mesmo iluminado.
Obrigada por comentar.
Bjs

j. monge disse...

Lindíssimo o teu texto. Ainda por cima partilha comugo duas "paixões" muito antigas: Chico e Vinícius.
Tenho a obra deles numa prateleira trás de mim por isso tenho de escrever baixinho não vão estar eles espreitando por cima do meu ombro...

Vou sumir de mansinho...

Fui!

Beijo, poeta!

Batom e poesias disse...

Querido João, tua poesia não fica atrás e portanto não tem com que te preocupar.

Que te espreitem que vão encantar-se como eu.

beijo

Ricardo e Regina Calmon disse...

Minina Rossana,kibon conhecer blog seu ,vida irradia aussi,paixões de infancia e juventude,um livro por voce escrito,não só por ídolos acredito!
Um Brinde A Vida Sua!
SALUE!
Viva Vida!
HIC!

Batom e poesias disse...

Grata Ricardo. Bem vindo!
Tim-tim!
bjs

Fred Matos disse...

"Eu tinha mesmo é que me apaixonar pelo homossexual inglês, problemático, que gostava de sapatos plataforma, chapéus e óculos gigantes."

Ótimo texto, viúva de Vinícius. Este trecho que destaquei me fez rir tanto que o colega de sala aqui do trabalho pensou que eu estava lendo piada.

Beijos

Rosa Magalhães disse...

Somente um amor maior resiste ao tempo, moça! Como diria o filósofo Renato Russo: "quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?". Uma honra amar Chico. Eu amo... não fica com ciúmes, tá?

Minha casinha com cores de verão adora suas visitas! Beijos...

Batom e poesias disse...

Ei Fred, é uma honra te fazer rir.
Saudades de teus rastros por aqui.
Bjs

Batom e poesias disse...

Fico com ciúmes não Rosa...
Esse é um amor que partilho com prazer.
Grata por vir.
bjs

Greice disse...

Lindo post!

"Diga o que você pensa com esperança.
Pense no que você faz com fé.
Faça o que você deve fazer com amor!"
(Ana Carolina)

As vzs as lembranças da minha infância aparecem do nada, e sinto uma saudade danaada das paixões passadas!

Hehe, beijos!

www.greiceosmarini.blogspot.com

Batom e poesias disse...

Lembranças são assim mesmo, Greice.
Aparecem do nada e depois se escondem de novo.

Obrigada por comentar.
Beijinho.

Marcos Ciabattari disse...

Você desistiu antes de mim. Ja fiz quarenta e estou tentando conhecer a Julie Delpy até hoje. Já pensei muito na Clarice Lispector, mas não encontrei um médium bom pra me comunicar... Mas escute: as roupas do Freddie Mercury eram "um pouco" ousadas? Quando você encontrar alguém com roupas muito ousadas me avise que eu não posso perder por nada!
Obrigado pela viagem. Foi um passeio delicioso!

Batom e poesias disse...

Eu que agradeço Marcos e vamos nos seguindo por aí.
Adorei teu blog.
bjs

Anônimo disse...

Sou super fã do Elton John, desde pequena...mas no meu caso não deixei meu fanatismo.
Quando também tinha uns 11 anos me apaixonei por ele...e olha que na época ele já tinha 45 anos, meio velho não é?!
Ainda acho ele muito charmoso, mesmo com 65 anos ainda tenho a paixão que tinha com 11 anos...